O ciclo da compulsão alimentar: por que não é falta de força de vontade
- emmamarcon

- 22 de set.
- 2 min de leitura

Quando alguém sofre com compulsão alimentar, quase sempre vem junto uma frase que machuca: “é só ter mais força de vontade”. Essa ideia, além de injusta, é completamente equivocada. A compulsão alimentar não tem nada a ver com preguiça, falta de disciplina ou desleixo. Ela é um transtorno reconhecido, descrito no DSM-5, o nosso manual da saúde mental, e envolve uma interação complexa entre mente, corpo e emoção.
O que é compulsão alimentar?
A compulsão alimentar acontece quando a pessoa consome uma quantidade muito grande de comida em pouco tempo, acompanhada da sensação de perda de controle. Não é apenas “comer demais num aniversário” — é um padrão repetitivo, angustiante e geralmente solitário, seguido de culpa, vergonha e sofrimento.
O ciclo da compulsão
O ciclo costuma seguir alguns passos bem claros:
Restrição alimentarA pessoa começa tentando se controlar com dietas muito rígidas, cortando grupos alimentares ou se privando.
Aumento da pressão internaO corpo entende a restrição como ameaça e aumenta sinais de fome. Ao mesmo tempo, o psicológico sente o peso da “proibição”.
Perda de controle e episódio de compulsãoA comida proibida vira objeto de desejo, e quando o controle escapa, a ingestão acontece de forma rápida, intensa e descontrolada.
Culpa e vergonhaLogo após, vem o mal-estar físico e emocional, junto com pensamentos como “sou fraco” ou “nunca vou conseguir”.
Reinício da restriçãoNa tentativa de compensar, volta a ideia de começar outra dieta rígida, e o ciclo se repete.
Por que não é sobre ter força de vontade?
Se fosse apenas sobre querer, ninguém viveria esse ciclo. A compulsão alimentar envolve:
Fatores neurobiológicos: a comida ativa circuitos de recompensa no cérebro, liberando dopamina. Dietas restritivas intensificam ainda mais essa resposta.
Fatores emocionais: a comida muitas vezes entra como válvula de escape para lidar com estresse, solidão, tristeza ou ansiedade.
Fatores sociais: pressão estética, cultura da dieta e comparação nas redes sociais aumentam a insatisfação corporal e reforçam o ciclo.
Como a psicologia pode ajudar?
Na psicoterapia, especialmente com abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), o paciente aprende a:
Reconhecer gatilhos emocionais da compulsão.
Diferenciar fome física de fome emocional.
Criar estratégias para lidar com emoções sem usar a comida como única saída.
Trabalhar crenças de “tudo ou nada” ligadas às dietas.
Desenvolver uma relação mais gentil e equilibrada com o corpo e com a alimentação.
A compulsão alimentar não é preguiça nem falta de força de vontade. É um transtorno sério, que precisa ser olhado com acolhimento e tratamento adequado. Quanto mais entendemos o ciclo, mais conseguimos interrompê-lo, não pela rigidez, mas pela consciência, pelo cuidado e pelo autoconhecimento.
Se você se reconheceu nesse texto, saiba que não está sozinho. Buscar ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza.




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